sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Resenha do livro: KRAWCZYK, Nora (org.). Escola pública: tempos difíceis, mas não impossíveis. Campinas, SP: FE/UNICAMP; Uberlândia, MG: Navegando, 2018.

Pode ser acessada em: https://dererummundi.blogspot.com/2018/12/escola-publica-tempos-dificeis-mas-nao.html

"Escola Pública: tempos difíceis, mas não impossíveis"

Em 2017, a Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) centrou as comemorações do seu 45.º aniversário no debate sobre o ensino brasileiro, num contexto social e político particularmente adverso que vai além das fronteiras do país. Sob coordenação da professora Nora Krawczyk, realizou-se o Congresso Internacional Escola Pública: tempos difíceis, mas não impossíveis.

Um dos produtos foi um livro de acesso livre com o mesmo título (aqui), cujo intuito é:
"... ampliar o debate sobre os rumos que vem tomando a educação nos últimos anos, marcados pelos ataques à escola pública e o cerceamento ao trabalho docente. Os artigos (...) mergulham no momento atual, para desvendar os interesses em jogo e como estes se expressam nas recentes medidas de política educacional. “Nosso objetivo tem sido produzir conhecimento, função da universidade que só se realiza com autonomia para pensar, debater e confrontar diferentes visões”, explica a diretora da faculdade, Dirce Zan. Ela [reforça a] tomada de posição da Faculdade de Educação contra as tentativas de cercear a liberdade de ensinar e contra as estratégias de delação de professores, promovidas por movimentos como “escola sem partido” no Brasil, “con mis hijos no te metas” em diversos países hispano-americanos”. 
"Os artigos do livro não se limitam a analisar a escola pública e defende-la. Tratam de desmontar as falácias que fazem do estado uma espécie de origem de todos os males, que exaltam o privado e procuram destruir tudo o que tenha caráter público. Ao mesmo tempo, mostram como os ataques à escola pública não têm fronteiras: estão em ascensão tanto no Brasil, quanto na Europa e nos Estados Unidos. 
Infelizmente, é esse o momento que estamos vivendo, com uma forte campanha voltada à sua destruição e substituição por modelos que retiram seu caráter público e democrático. O discurso político alarmista e maniqueísta do fracasso do Estado na condução da educação básica e universitária é legitimado numa produção de conhecimento dominada pelo economicismo e pela supremacia dos interesses privados." 
"O ataque à escola pública não é mais nem menos que uma investida na ignorância que se dá, paradoxalmente, num tempo chamado ‘era do conhecimento’. Nega-se um espaço democrático onde se possa aprender a ser tolerante com as injustiças, a conviver com o diferente. Um espaço que estimule a curiosidade e o gosto intelectual de apreender. Um espaço que transcenda as crenças e os valores particulares de grupos e famílias. Uma escola que esteja disposta a contrariar destinos. 
O ataque à escola pública não é mais nem menos que um ataque à soberania nacional. A escola pública é um espaço estratégico de formação de valores e é fundamental no desenvolvimento de uma sociedade democrática e independente. Um espaço que, por sua própria condição de público, deve estar orientado pelo interesse coletivo. A universidade pública é o lugar, por excelência, de desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação, em prol do interesse coletivo, econômico e social. 
A destruição dos espaços públicos e a apropriação da educação escolar por interesses particulares – ideológicos e econômicos – são dimensões do processo regressivo das conquistas sociais adquiridas ao longo de décadas e que estamos vendo serem destruídas, produzindo nem mais nem menos que a precarização e a desagregação da sociedade . É nosso dever resistir à destruição da escola pública, pois ela, apesar de todas as suas contradições, inerentes ao sistema no qual está inserida."
Nora Krawczyk (organizadora da obra)